Demorei quase dois meses, mas finalmente consegui finalizar este post! O último post no último dia do ano!
Senta que lá vem história! E fotos! Esta é para quem quer ler um relato bem descontraído sobre a experiência deste blogueiro de ter participado da corrida mais famosa do mundo: a Maratona de New York. Espero que os não-atletas curtam e que a história possa servir de incentivo e que os atletas amadores como eu, sintam-se ainda mais incentivados na busca por novos desafios, novas provas e sensacionais experiências.
Como disse no post anterior, sei que ando vacilando há algum tempo na periodicidade das postagens, que sempre foi bem grande, mas a vida muda. E nestas mudanças, a corrida de rua que há muitos anos entrou na minha vida complementando minhas outras atividades físicas, de repente começou a ficar mais séria e chegou agora a um novo patamar! E este bem mais legal. Quando comecei a correr “com planilha”, que pra quem não sabe é seguindo um programa de treino exclusivo feito por um profissional, a minha proposta foi bem objetiva: queria correr minha primeira maratona – 42 km e 195 metros – em menos de 1 ano. Para não virar um textão no estilo “essa é minha vida”, vou pular um pouco, dizendo que tudo deu certo, etc, etc, e chegar logo nos dias atuais.
Depois de dezenas e dezenas de provas de 10K, 15K, 16K, meias-maratonas, revezamentos e maratonas, queria mais; creio que como todo corredor apaixonado. Ano passado quando tive o prazer de passar férias curtindo com minha família as delícias de Nova Iorque, consegui encaixar na viagem uma corrida dentro do Central Park! Sim e em pleno dia do aniversário de 9 anos do meu filho Gabriel! Alegria extrema: correr uma prova oficial dentro de um dos grandes símbolos de NY, acompanhado da minha esposa, filha e filho aniversariante? Uau, foi demais! Só que a pulguinha na orelha lançada neste dia, não sossegou. A corrida que eu havia feito marcava o início das comemorações pré-maratona, prova que ocorreria na semana seguinte. Assim que voltamos, esperei a abertura das inscrições para a maratona e como quem não quer nada, dia 8 de março recebo um e-mail dizendo: “Congratulations! You’re In!“. Caramba, e agora?!
Agora? Agora era correr para ver passagens e hospedagem. A contagem regressiva havia começado e faltava pouco menos de 8 meses para realizar o meu grande sonho! Medos mil; principalmente a cada e-mail da organização da prova: horários, transporte no dia, saída pós-prova, etc, etc, etc. Mas vamos por partes. Depois de todo o planejamento feito, passagens compradas e hospedagem via AirBnb fechada, consegui ficar um pouco mais tranquilo. Poderia me concentrar exclusivamente nos treinos. Foram cerca de 7 meses de planilhas com o grande professor Otávio Batista, o Coach Potato, alongamentos com o parceiro de longa data, professor Rodrigo Tranquino, e o apoio dos amigos da Jurupinga Runners, despojado grupo de corredores do qual faço parte e que faz provas de rua por Curitiba e pelo mundo afora, capitaneado pelo amigão Maurício Weigert. O que não faltou foram treinos e quilômetros rodados…
A viagem
Eu e minha esposa saímos na quarta-feira dia 02, feriado do Dia de Finados, fazendo uma viagem sem sobressaltos (fora um chato atraso de 3 horas) de apenas duas pernas: Curitiba/SP e SP/NY. Após 13 horas no total, passamos pela imigração após a clássica e gigantesca fila, sem incomodações. Chegamos com o fuso de 2 horas pra menos em relação ao Brasil, perto das 7h45 da manhã. Pegamos um trem dentro do próprio aeroporto JFK e fomos deixar nossas coisas no apartamento alugado via Airbnb da simpática Demetria, e depois de colocar os SIN cards americanos em nossos celulares, partimos direto para pegar o kit da prova.
A retirada do kit de corrida
Próximo do local de entrega o clima da prova começa a aparecer. Um monte de gente carregando sacolas da prova na mão, pessoas com jeitão de corredor, grupos de corrida, ônibus de turismo e tudo mais. Quando se chega no Jacob K. Javits Convention Center o coração acelera de vez! O local é absurdamente grande! Um espaço realmente compatível com as proporções do evento e ali me dei o primeiro beliscão para ver se aquilo tudo era verdade! A organização, para variar, impecável! Do lado de fora, segurança de sobra, com policiais e cães por todos os lados. Dentro do pavilhão, estavam alguns dos 10.000 voluntários envolvidos no evento. Gentis, solícitos e pacientes, seguravam placas do tipo “Posso ajudar?” e qualquer dúvida era rapidamente dirimida.
Segui para os locais onde eram entregues os números de peito, a identificação individual durante a corrida, separados em uma sequência enorme de balcões. Pudera, o meu número era o 23.350, de 50.000 corredores inscritos, mas com a fácil sinalização não tive problemas em chegar direto ao espaço do meu número. Kit básico na mão, a coisa estava só começando. Dali seguimos para um espaço onde as camisetas da prova, inclusas no valor da inscrição, eram entregues. Tudo também em balcões, com as camisetas separadas por tamanhos, assim como na entrega dos números. A diferença é que antes de chegar, os diversos modelos P, M, G, GG, XGG, feminino e masculino, estavam expostos em displays. Voluntários pediam para que cada um experimentasse para evitar pegar um modelo errado. Mais uma bela demonstração de eficiência.
Essencial resolvido, hora de relaxar e conhecer a loja oficial do evento, os stands dos fornecedores, assistir vídeos, conhecer melhor o trajeto, tirar fotos, enfim, dar um super-mergulho na Maratona de NY. Difícil é resistir às tentações consumistas, ainda mais pagando em dólar e em tempos de crise braba, mas um souvenir ou outro eu acabei comprando, né?! Muita coisa legal sendo exposta e divulgada; opções de corridas por todos os cantos do mundo, novidades de alimentação, hidratação, vestuário, enfim, o que tem de novo chegando no universo das corridas, estava lá.
A véspera
A véspera da corrida foi uma loucura! Eu sabia que após a prova, a região próxima a chegada, no Central Park, sofre um verdadeiro colapso na rede e é quase impossível falar com alguém pelo telefone. Nem preciso dizer na quantidade de pessoas. Sendo assim, fomos combinar o meu encontro e da minha esposa pós-maratona. Compromisso cumprido, rolou um probleminha. Minha câmera estragou e meu iPhone precisava de uma nova bateria. Fomos na Apple Store da Grand Central Station e lá descobri que apenas na tarde de domingo ele ficaria pronto. Não dava, eu precisava do celular e da câmera. Resolvi aceitar a proposta do pessoal e comprei o novo iPhone 7, com a ideia de vender o meu na volta. Ok, simbora me concentrar para o grande dia.
O grande dia chegou!
Se em provas corriqueiras eu já sofro pra dormir na noite anterior, nesta foi ainda mais tenso. No sábado dia 5 à meia-noite acabava o “Daylight savings time” nada menos que o horário de verão deles. Assim eu ganhava mais uma hora de sono, porém como ter certeza de que os relógios do telefone, tv, computador, etc, realmente haviam se ajustado automaticamente?! Bom, fiz o mise en place das minhas coisas: tênis, meia, bermuda, regata, camiseta com número de peito, jaqueta, luva, carbogel, etc. Acordei antes das cinco e depois de verificar 100 vezes que não havia esquecido nada, inclusive o cartão do metrô, segui sozinho para a minha sonhada corrida. A Carlota ficou pois não havia como ela ir até o local da largada e assim ainda poderia me ver passar em algum ponto da prova. Peguei o metrô e em pouco tempo estava no Staten Island Ferry, o terminal onde pegaria o barco para uma parada antes de seguir até o local da largada. Após descer do ferry boat, eu e já algumas dezenas de atletas amadores, seguimos até a saída do terminal. Daquele ponto em diante apenas corredores e pessoas da organização podiam passar. Em fila, todos caminhavam até um dos inúmeros ônibus que aguardavam os participantes. Voluntários, sorridentes às seis da manhã, indicavam para um busão até que ele completasse a lotação. Entrei, sentei e em cerca de 15 minutos chegamos até um ponto próximo à entrada. Lá, a última revista, e depois uma caminhada até os portões de acesso ao Fort Wadsworth. Como são áreas, portões e horários de largadas diferentes, os atletas vão se separando e seguindo em direção ao seu ponto correto. O meu era o Blue Village, Blue Corral, Gate E, Wave 2; ou resumindo: eu largaria na segunda onda da área azul do portão E. Até lá porém, eu tinha que aguentar o frio, o vento e claro, as horas. A aglomeração de pessoas foi aumentando e o clima de prova ficando ainda mais legal. Nos alto-falantes, sem parar, informações sobre a largada em diversas línguas. Comida e bebida estavam disponíveis aos montes, incluindo bagels, frutas, café, chá, sucos, água e mais uma porção de opções.
A largada
Como em todo o resto, a largada não seria diferente, e foi impecável. O meu horário era 10h15 e às 9h o portão foi aberto. Tensão total, mas ainda havia um grande caminho. Aquece aqui, alonga acolá e os minutos foram passando. As cordas que separavam os corredores dos outros portões foram sendo abaixadas e começou uma longa caminhada. Reta, subida, curva, descida, até que chegamos a um estacionamento cheio de ônibus. Ali já havia um super-clima de corrida, com música alta e atletas ansiosos dançando e se aquecendo ao mesmo tempo, enquanto mais uma vez fizemos uma parada. O locutor da prova começou a falar, homenageou pessoas, incentivou a galera e foi a vez do hino americano ser cantado ao vivo. Assim que terminou o locutor voltou ao microfone e pediu para que ninguém se assustasse. Seria disparado um tiro de canhão (efetuado pela viúva de um bombeiro morto no 11 de setembro) e assim começaria a nossa tão esperado corrida. Dito e feito: “BUUUUUUM!!!”, Frank Sinatra cantando New York, New Yok nos alto-falantes e lá fomos nós!
A primeira ponte a gente nunca esquece
A temperatura não estava tão baixa quanto se esperava e logo o calor começou a tomar conta do meu ser. Como já havia sido planejado, e esta é uma forma de arrecadar agasalhos para pessoas carentes que deveria ser copiada por aqui, fui com uma jaqueta que ficaria pelo caminho. Só não imaginei que fosse logo na primeira e tão espetacular ponte. Cheguei até a fazer um pequeno vídeo correndo, coisa que jamais havia feito antes. Pois bem, quase no final da Verrazano Bridge, fui jogar o meu casaco. Joguei, mas junto dele foi para o chão algo que não deveria: o meu iPhone 7 novinho em folha e sem case ou proteção. Ele escapou do meu arm band e foi direto para o asfalto da ponte. Me abaixei para pegar, vi de relance que o vidro estava intacto, coloquei de volta e tirei o incidente do meu pensamento. Não seria ele que estragaria a minha corrida. E não foi. Logo eu estava curtindo a inacreditável vibração dos espectadores.
O público
Assim que comecei a cruzar pelas primeiras quadras onde as pessoas se aglomeravam às centenas o pensamento a seguir se formou na minha cabeça já pensando neste post: “São elas, são estas pessoas que fazem a prova! Se for assim até o final, não tem como não ser inacreditável!”. E assim foi! A participação popular é quase surreal! Bandas pelas esquinas tocando os mais variados estilos musicais, cartazes, homens, mulheres, crianças, idosos, cachorros, enfim…a população de NY vai para as ruas! Milhares de pessoas se acotovelando, gente com cartaz, carregando cestas com nacos de banana, refrigerante e até com massageadores para câimbras, tinha. O fato é que salvo em um trecho ou outro, e ainda porque em algumas pontes não havia lugar para ficar, o público estava presente e realmente fazia a diferença. Sem aquela energia, as dores e todo o sofrimento que uma prova dura como esta causa, tudo seria muito mais difícil. Arrepia só de lembrar!
A prova
Estabeleci algumas metas para a minha estratégia de corrida, porém cada dia é um dia, cada prova é uma prova; nunca sabemos como corpo e mente irão se comportar. Saí super bem e mantive tudo dentro do previsto, inclusive conseguindo segurar o ritmo, que tende a aumentar por conta da empolgação causada pelo público. O problema foi quando eu descobri após alguns quilômetros que a contagem real do percurso havia começado bem depois do meu relógio. Graças aos vários portões e diferentes percursos iniciais, o “marco zero” da prova era na verdade quase a minha segunda milha. Precisei lidar muito com isto e o psicológico brigou fortemente com o físico em diversos momentos da corrida. Eu estava muito bem treinado e com o condicionamento físico no ápice, mas essa maratona é bastante pesada. Algumas subidas intermináveis fizeram com que o meu auto-controle e o “saber lidar com situações adversas” fosse fundamental. A hidratação foi absolutamente exemplar, com água e Gatorade sempre à disposição dos atletas. O trecho final da prova parecia ter tantas ou mais pessoas que no começo, assim como a animação e gritaria que continuava no volume máximo. Novamente essa participação foi decisiva e foi possível esquecer um pouco as dores e o cansaço brutal. As últimas milhas são dentro do Central Park e as pequenas porém incessantes subidas e descidas tornaram-se o desafio final para a legião de amadores. Próximo a linha de chegada minha mente era um misto de emoções e sentimentos. Ao mesmo tempo que eu queria terminar logo, já sentia falta daquilo tudo. Tentei curtir ao máximo os metros finais, quase caminhando enquanto olhava e tentava absorver o que podia daquilo. Eis que passei o portal, cumpri minha missão, eu havia corrido a Maratona de NY! Medalha, cobertor térmico, sacola com suplementação, fotos…uma loucura! Uma corrida que ficará guardada no meu coração eternamente. Como optei por não usar o guarda-volume, eu e mais milhares de atletas seguimos para a caminhada final até a saída, na 77th Street. Como num episódio de The Walking Dead, um bando de zumbis começando a sentir os efeitos de dores musculares pelo corpo se arrastava pelo parque, cada qual com um enorme sorriso no rosto, loucos para encontrar seus familiares e amigos. A escolha por esta saída, sem uso de guarda-volumes, garante aos participantes um providencial e quentinho poncho azul, bem característico da corrida. Pelo menos no meu caso, ele foi indispensável, tamanho frio que comecei a sentir. Encontrei a Carlota conforme havíamos combinado e não me continha, tentando contar toda aquela experiência e falando sem parar. A caminho da estação de metrô minha vontade era falar com todo mundo na rua, mostrar a medalha, curtir sem parar aquele finalzinho de maratona. Quando chegamos no apartamento, ainda tive forças para trocar mensagens com um monte de gente e assistir uma reprise resumida da prova. Desmaiei na cama após o banho e dormi como há tempos não dormia.
O dia seguinte
Falei que ia ser textão e não estava brincando, mas agora está no fim. Para quem não sabe, no dia seguinte a corrida, corredores orgulhosos, independente do tempo registrado, andam pelas ruas de Nova York com a medalha no peito. A retribuição com “congratulations”, tapinhas nas costas e largos sorrisos é impressionante e apenas reforça mais uma vez como os moradores da cidade realmente amam aquela maratona. Desfilei faceiro com meu casaco de finisher e minha pesada medalha no peito. Para quem ficou imaginando o meu iPhone 7 todo arranhado e amassado, o final não poderia ter sido mais feliz. Voltei na mesma Apple Store e para minha sorte encontrei com as mesmas meninas que haviam me atendido no sábado. Após os parabéns pela medalha e conclusão da prova, mostrei o que havia ocorrido com o aparelho novinho. Sem titubear, uma das meninas, que infelizmente não lembro o nome, disse: “Você não irá voltar para o Brasil com o telefone assim!”. Sim, podem acreditar; ela trocou o aparelho por um novinho em folha! Para nós que sempre somos tão maltratados no quesito atendimento parece uma grande lorota, mas sim: no fim tudo realmente deu certo! Duplamente feliz; com a Big Apple e a Apple.
Enfim, fim!
Depois de tudo, de um ano tão esquisito, tão duro, tão difícil, vejo que a prova foi exatamente como 2016. É preciso fé, esforço, dedicação e até sorte, mas no fim tudo dá certo! Deixo aqui meu enorme beijo e agradecimento a queridíssima Demetria que nos hospedou como poucos (na foto com sua filha) e um gigantesco obrigado à todos que deram força e claro: a Deus! Que venha 2017: lindo, cheio de saúde, trabalho, sucesso, grana e junto às pessoas que nos fazem bem; sejam amigos, sejam familiares! “Orgulhosamente legaus”!
Não precisa se desculpar pelo textão nem pela frequência das postagens. Acredito que todos os leitores, assim como eu, acabamos criando uma ligação especial te acompanhando todos estes anos, e ficamos muito feliz com as conquistas da tua vida pessoal, mesmo que isso interfira no blog, o que é mais do que normal. As postagens continuam com uma qualidade incrível, e eu gostei muito do texto e conhecer melhor esta experiência da Maratona de NY.
Parabéns!
Fiquei com as pernas doendo só de ler…
Que máximo, André!
Isso realmente foi Bem Legaus!
Beijos e sucesso!!!
Parabéns André!
Muito legaus!!!
Um ótimo 2017, cheio de aventuras, pra você e toda a família.
Um grande abraço!
Rejane
showwwww
Ohhh que conquista hein!!!
Parabéns!!!
Feliz 2017… que tenhamos um ano bem legaus!!!!
Super bacana! Maratona é uma conquista a ser celebrada efusivamente e seu relato foi muito bom! Deu até vontade de correr! rs